28/03/2012

Encontro promove troca de experiências entre benzedeiras, rezadeiras e parteiras

Na noite do primeiro dia do Festival Pernambuco Nação Cultural – Edição Mata Norte, a cidade de Lagoa de Itaenga, que fica a cerca de 70 km de Goiana (cidade polo), recebeu um encontro especial. Benzedeiras, rezadeiras e parteiras reuniram-se no Salão da Juventude para trocar experiências sobre suas atividades, compartilhar suas histórias de vida e celebrar a sobrevivência heróica de três práticas seculares em vias de extinção.exibir_imagem

Dispostos em círculo, o primeiro momento do encontro foi de apresentações. O microfone passava de mão em mão, e cada um pode falar um pouco de si. Maria Conceição da Silva, rezadeira de Lagoa de Itaenga, conta que foi mãe de 22 filhos e que reza há 30 anos. “Eu rezo dente caído, estômago aberto, sapinho na boca de menino”, relata, e afirma que todos se curam. Irani, parteira de Lagoa do Carro, conta que é professora de formação, mas que nunca exerceu a profissão. Ela, a mais jovem do grupo, com 46 anos, compartilha com os presentes sua experiência com parto domiciliar na cidade de Carpina e as dificuldades da prática: “o que eu gosto de fazer na vida é pegar menino. Faço porque amo”.  As palmas são constantes ao final de cada fala.

A maior parte das benzedeiras, rezadeiras e parteiras eram mulheres já idosas, que concentram todo o saber da prática em suas memórias. Maria Aparecida da Silva, por exemplo, rezadeira há 35 anos, relata que aprendeu o ofício apenas observando a mãe. O encontro deixou clara a necessidade de amparar e cuidar desses saberes que envolvem cultura popular, saúde e fé. “A importância do resgate dessa cultura não tem preço”, diz Isabel Gonçalves, artesã e Secretária de Cultura de Lagoa do Carro. Ela conta ainda a história de Dona Inácia, de 70 anos, também presente no encontro, que já fez cerca de 150 partos na comunidade de Campo Grande, divisa com Limoeiro. “90% da comunidade foi posta no mundo por ela”, afirma Isabel, e completa com a constatação de que em pequenas comunidades, com poucos hospitais e leitos, a atividade das parteiras é além de uma questão cultural, também uma questão de saúde pública.

No grupo de mais ou menos 30 pessoas, havia apenas dois homens. Um deles, Seu Severino Antônio, conhecido em Itaenga como Totinha Cigarra, enfatiza a fé na sua prática. Benzedeiro famoso na região, conta que sua casa vive lotada e que já curou muitas pessoas com doenças graves.

Ao final da noite, a rezadeira Maria Josefa da Silva, mais conhecida na região como Maria da Branca, convidou algumas companheiras para fazerem a reza de Bendito São José, o Bendito da Chuva. “Meu divino São José/com seu cajado na mão/nem de sede nem de fome/não mata seu filho não”, entoaram emocionadas as mulheres no centro do círculo, fechando o encontro.

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