O rádio conta história que identifica com a do ouvinte, e essa peculiaridade aproxima cada vez mais o veículo do povo. O rádio que ouvimos hoje com imparcialidade, precisão nas informações, e com uma forma isenta de passar a notícia, é o mesmo das casas de alpendre que ficava no terreiro para todos os vizinhos ouvirem o Repórter Esso. Talvez o que sobrou daquela época - considerada “era de ouro do rádio”- foi a ideia de que voz impostada é voz bonita. O ranço do passado era muito forte e a linguagem mais comum era a do “jornal falado”. Mal percebiam que o Repórter Esso era apenas uma referencia histórica e pertencia ao passado – um cadáver tirado do armário toda vez que se tentava um projeto jornalístico.
Rádio não simpatiza com discurso e leitura e sim com bate papo e conversa. Alguns tempos atrás os locutores não se limitavam a dar as notícias, faziam questão de anunciá-la. Acreditavam e muitos ainda acreditam que o estilo solene, impostado, e às vezes dramático dava mais peso à informação, o que na verdade apenas dificultava o entendimento. De acordo com a diretora de jornalismo da CBN, Mariza Tavares, um dos grandes mitos do rádio que, felizmente, a CBN ajudou a derrubar é de que uma bela voz é a principal ferramenta do profissional. Segundo ela, voz boa ajuda, sem duvida, mas não é fundamental. No entanto o bom texto é indispensável na produção de conteúdo editorial de qualidade.
A história do rádio registra, que no Brasil a primeira transmissão foi realizada no centenário da Independência, em 7 de setembro de 1922, pelo presidente Epitácio Pessoa. O discurso de abertura foi transmitido para receptores instalados em Niterói, Petrópolis e São Paulo, através de uma antena instalada no Corcovado. Era o princípio da primeira emissora de rádio do Brasil, uma novidade comentada em todos os lugares – estava no ar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a estação foi fundada por Roquette Pinto, mas tarde em 1936 foi doada ao governo, hoje Rádio MEC.
Depois disso o rádio cresceu, instabilizou-se e ganho rumo certo. A partir daí as histórias que faz rádio são muitas e algumas muito engraçadas. Quem escuta a CBN, com certeza já ouviu Juca Kfouri, dizer: - Oito meia, dona Nadir. É hora de seu remédio. Ele conta no livro CBN – a rádio que toca notícia – que alguns entendem como mero bordão, mas esse recado diário durante o “CBN esporte clube” é para valer. E a história nasceu logo no dia da estreia do programa, em 2000, quando dona Nadir ligou para a redação e deixou o recado para ser repassado para ele.
– Avise a esse rapaz que rádio é prestação de serviço e se ele não informa as horas eu me esqueço de tomar o remédio. Juca Kfouri conta, que no dia seguinte, olhou para o relógio e disparou pela primeira vez o recado: - “Oito e meia dona Nadir, é hora de seu remédio. O pessoal do estúdio olhou para mim, como se fosse maluco. Aí pensei: isso pode ficar engraçado. Então fiz de novo às nove horas. No dia outro dia, recebi novo recado dela, agora mais amistoso.” - Diga a esse rapaz que ele é muito delicado e que fiquei muito feliz de ele ter falado meu nome. Tempo depois dona Nadir estava sendo entrevistada por Juca. São histórias iguais a essa que deixa o rádio dinâmico e espontâneo.
O modismo da comunicação atribui a necessidade de nós nos informarmos cotidianamente, a ponto de saber qual a manchete do principal jornal da cidade, a cotação do dólar; a vida atribulada do desemprego, a falta de perspectivas, faz-nos a viver cada vez mais limitados à necessidade do poder da informação. A comunicação torna possível a interação e ao mesmo tempo adequa a convivência entre os homens já que a integração do indivíduo ao seu ambiente e ao seu tempo está relacionada de forma intrínseca ao acesso ao conhecimento. Segundo um dos renomados radiojornalistas brasileiro, Heródoto Barbeiro, o desafio da ancoragem em rádio somente de notícias surgiu em uma época importante de transformações sociais e históricas, e foi envolvido nas grandes mudanças do final do século XX. O conceito inicial seria o de aplicar no rádio os mesmos princípios éticos e profissionais de outros meios, com base na premissa de que jornalismo é jornalismo não importa por onde seja propagado.
Cláudio Gomes – É estudante de Jornalismo
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