03/01/2012

Pernambuco tem três novos Patrimônios Vivos da Cultura Popular

A ceramista de Tracunhaém, Maria Amélia, o coquista Mestre Galo Preto, de Olinda, e o Maracatu Estrela de Ouro, de Aliança, são os mais novos componentes do seleto grupo de pessoas ou instituições de destaque na cultura popular, a ostentar o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.


A escolha se deu após a leitura e avaliação de ampla documentação dos mais de 59 processos de candidatos habilitados a participar da edição 2011 do concurso público, da capital e do interior. Todos eles foram indicados por entidades culturais, prefeituras e secretarias municipais de cultura, depois de comprovados pelo menos 20 anos de atuação no fomento à cultura popular e tradicional.

A Lei 12.196, de 02 de maio de 2002, que instituiu o Registro do Patrimônio Vivo de Pernambuco, tem como objetivo reconhecer, em vida, o trabalho dos mestres e grupos culturais da terra, na construção de um patrimônio cultural. Ela permite também a preservação e valorização das manifestações populares e tradicionais, garantindo as condições para que sejam repassadas às novas gerações de aprendizes. Para isso, o Governo do Estado paga uma bolsa vitalícia no valor mensal de R$ 907,77 (pessoa física) e R$ 1.815,53 (grupos culturais) como forma de incentivo à realização e perpetuação de suas atividades.

Com os 3 eleitos de 2011 para receber o título, sobe para 27 o número de Patrimônios Vivos de Pernambuco em atuação no Estado. Conheça os novos membros:
MARIA AMÉLIA DA SILVA – Ceramista de Tracunhaém

Com 88 anos de idade, MARIA AMÉLIA DA SILVA é pioneira na arte ceramista do município pernambucano de Tracunhaém e detém, de maneira sólida, conhecimentos e técnicas necessárias para a produção e preservação de aspectos da cultura tradicional do barro, no referido município.

Sob a influência de seu pai (João Bezerra da Silva, conhecido popularmente como Mestre Dunde), Maria Amélia começou a transformar barro em bichos e bonecos com oito anos de idade. Mestre Dunde era louçeiro e produzia panelas, jarros, bacias, etc. para vender nas feiras livres da Zona da Mata Norte de Pernambuco. Foi no ambiente das feiras que Maria Amélia buscou inspiração para o que veio a ser a sua marca enquanto artesã. Através de quadros de santos espalhados nas feiras, Maria Amélia escolheu dedicar-se à construção de imagens de santos católicos, destacando-se as imagens de São João do Carneirinho, Nossa Senhora do Rosário, Rainha do Céu, São Francisco, Santa Luzia, São José e São Pedro. Suas obras medem de 50 a 70 cm e possuem uma expressão facial simples, mas comovedora. Os mantos são pregueados e largos, uma marca registrada sua que empresta certa imponência à imagem, facilmente identificada, diferenciada e primitiva do surgimento do artesanato em barro na cidade de Tracunhaém.

Sua história de vida no seio de sua comunidade e sua contribuição sócio-cultural para a cidade de Tracunhaém é refletida em várias exposições em cidades brasileiras como Brasília e Rio de Janeiro e em países como Inglaterra e França. Somados a isso, inúmeros livros, matérias de jornais e revistas como: livro O Reinado da Lua – esculturas populares do Nordeste (1980); o livro Artesão Brasileiro – folk art of Northeastem Brazil (1995); Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro Sec.XX (1976); livro Mestres que se renovam: a cerâmica popular de Tracunhaém (2010); livro Em nome do Autor – artistas artesãos do Brasil; livro O Povo do Barro, de Rildo Moura (2011). Destacamos, ainda, sua participações e homenagens:
- Homenageada na Festa dos Artesãos de Tracunhaém (1993) – Realizada pela Prefeitura Municipal de Tracunhaém e Secretaria de Turismo e Artesanato;
- Participação no Salão dos Mestres na FENNEART (2000 a 2009) – Centro de Convenções em Olinda-PE;
- Título de Cidadã Benemérita de Tracunhaém (2002) – Câmara Municipal de Tracunhaém;
- Participação na Exposição “100 anos do Brasil” (2003) – França;
- Homenageada “Artesã mais antiga” na Festa dos Artesãos em Tracunhaém (2005) – Prefeitura Municipal de Tracunhaém;
- Homenageada no I encontro Nacional de Artesãos (2006) – Prêmio Memória do Artesanato Pernambucano.

Por fim, compreendemos que a arte de Maria Amélia resulta de saberes acumulados por gerações de artesãos, exigindo domínio dos saberes e técnicas, bem como um apurado sentido estético e perícia manual. Sem dúvida, a artesã, referência para uma centena de pessoas, representa a continuidade de uma herança, cara à cultura pernambucana, de técnicas e conhecimentos dos recursos naturais existentes em sua região. Seus conhecimentos, transformado em objetos, criam e reinventam uma das formas mais singulares de representação de nossa identidade cultural. Portanto reconhecê-la significa, também, valorizar os produtos artesanais de referência cultural que reportam aos seus territórios, a um conjunto de elementos simbólicos e aos seus antepassados, traduzidos por costumes, ritos, mitos e cores.

TOMAZ AQUINO LEÃO (GALO PRETO) - Coquista

Coquista Mestre Galo Preto
Tomaz Aquino Leão, conhecido artisticamente como Mestre Galo Preto, tem 76 anos de idade e mais de 65 anos de luta pelo coco e pela cultura pernambucana. Com larga atividade no meio cultural como coquista, cantador, embolador, compositor e percussionista, Mestre Galo é oriundo de Bom Conselho de Papa Caças, hoje reconhecido quilombo de Rainha Izabel, no agreste meridional, e, considerado o último remanescente da tradição do coco (dança, ritmo e cânticos) nessa região. Foi parceiro de nomes expressivos da música popular brasileira como, Jackson do Pandeiro, Cauby Peixoto, Arlindo dos Oito Baixos, Luiz Gonzaga, Jacinto Silva, entre outras personalidades musicais de sua época. Além de CDs gravados, sua vida e trajetória já foi objeto de dois DVDs, além de livro de fotografias e participação em vários DVDs e documentários sobre coco.

MARACATU ESTRELA DE OURO- Baque Solto - Aliança

Maracatu Estrela de ouro se ajoelha para Mestre Zé Duda
O Maracatu Estrela de Ouro, numa herança de família passando por gerações e nomeações diferentes, desde 1882, tem sua constituição em 1966, no Sítio Chã de Camará, município de Aliança, e se torna a partir daí um ícone entre a manifestação popular do Maracatu de Baque Solto ou Rural. Mestre Batista, seu fundador, levou sua tradição e a faz difundir-se por todos os lados do canavial da Zona da Mata Norte de Pernambuco. A idéia era acrescentá-lo às brincadeiras do Cavalo Marinho, rodas de ciranda e forró de rabeca já praticadas no local.

Durante anos, o Maracatu Estrela de Ouro de Aliança saiu apenas para visitar os povoados das cidades vizinhas. Mas o grupo foi crescendo e ganhando popularidade até figurar entre maiores maracatus do Estado de Pernambuco. Por diversas vezes foi campeão nos Concursos de Agremiações Carnavalescas promovidos pela Prefeitura do Recife durante o carnaval.

O Maracatu Estrela de Ouro foi, desde o início, um verdadeiro ponto de encontro de todas as culturas da região e de onde saíram vários mestres. Com a morte de Mestre Batista, em 1991, o Maracatu Estrela de Ouro de Aliança passou a ser presidido por seu filho, o mestre José Lourenço. Na nova fase, iniciada em 1992, o Estrela de Ouro foi reconhecido pelo Ministério da Cultura como Ponto de Cultura, um local de preservação, recriação e transferência cultural do povo brasileiro. Atualmente conta com uma biblioteca reconhecida como Ponto de Leitura e um estúdio de gravação.

Atualmente o Maracatu Estrela de Ouro tem mais de quarenta Caboclos de Lança, chefiados pelo Mestre Luiz; uma orquestra dirigida pelo Mestre Zé Duda e já ganhou o mundo sendo o único maracatu rural a chegar à Europa. Recentemente toda historia do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança foi lançada em livro pelo Historiador Severino Vicente. Em 2009 o Maracatu Estrela de Ouro recebeu a comenda mais importante da cultura brasileira. A Ordem do Mérito Cultural.

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