08/02/2010

Antônio Moraes: “O voto tem preço”

Entrevista concedida a Folha de Pernambuco

Na busca pelo seu quarto mandato consecutivo, o deputado estadual Antônio Moraes 08022010politica-04 (PSDB) combate o modus operandi da forma de fazer campanha. Para o tucano, é cada vez mais difícil ter êxito nas eleições sem uma condição financeira favorável. Filhos e familiares de prefeitos, parlamentares e empresários largam na frente pela disputa das vagas nas casas legislativas estaduais, mesmo que estes “não tenham vocação política”. Dentro deste ponto de vista, Antônio Moraes diz que “o voto tem preço”, revelando o preço tabelado de R$ 140 por cabeça. Ele acredita que o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) entre na disputa pelo Governo Estadual contra o governador Eduardo Campos (PSB). Mesmo apostando em Jarbas, Moraes analisa como “boa” a gestão de Campos, apesar de cobrar melhorias nas áreas de Saúde, Segurança e Rodovias. Os investimentos realizados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estariam concentrando muita verba nas mãos do Governo Federal, além de acusar os petistas de fazerem campanha eleitoral antecipada para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).

O senhor aposta na candidatura do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) ao Governo Estadual?

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) é candidato. Pernambuco merece pela qualidade política do Estado ter uma eleição com duas grandes lideranças disputando o Governo Estadual. Jarbas é um político de ir à luta, seu passado mostrou isso, desde o Regime Militar. Jarbas sempre teve coragem de enfrentar eleições adversas como foi o caso das eleições com os ex-governadores Nilo Coelho e Cid Sampaio. Eleição se ganha e se perde, mas fica na história quem tem coragem, o ex-governador tem coragem.

E o espaço do PSDB na chapa majoritária?

Nosso espaço é o senador Sérgio Guerra (PSDB), que deve ser candidato à reeleição. O PMDB deve ser inserido nesse contexto, devemos armar um palanque aqui para o governador José Serra (PSDB-SP).

E como vai entrar o PSDB nas chapas proporcionais?

Embora seja muito cedo, os três maiores partidos da aliança - PSDB, PMDB e DEM - devem sair com chapas individuais. Acho que não deve haver nenhuma dificuldade, mas isso não trará nenhum problema para eleição majoritária. Queremos ampliar nossa bancada de oito deputados e temos uma quantidade grande de candidatos em potencial. Temos candidaturas fortes, com apelo de voto muito grande nas suas regiões e teremos uma grande musculatura. Devemos entrar com um chapão para os federais, como aconteceu nas últimas eleições.

Qual é a real situação para a campanha de um deputado estadual?

O voto tem preço. Um voto hoje para alguns que estão pagando chega a R$ 130, R$ 140, para se ter ideia do absurdo que está acontecendo. Então, esses políticos chegam lá e calculam quanto é que determinada liderança política pode render quantitativamente de voto, faz uma conta simples e paga. Essa é a verdade. Infelizmente é importante abrir os olhos para o Ministério Público e abrir os olhos da Justiça Eleitoral. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes,  colocou que o TSE tem sido muito rígido com prefeitos e governadores, mas não chega a todos os lugares. Acredito que era importante que o próprio Ministério Público, que está presente hoje em todas as cidades do Interior, atuassem com maior rigor com relação a esses acordos políticos que ocorrem em todos os lugares.

Então, só se elegem os ricos?

Sem dúvida que um político de classe média ser eleito é uma espécie em extinção. Do jeito como as eleições têm acontecido, a classe média, o profissional liberal vai ficar completamente de fora do processo eleitoral legislativo. As eleições estão cada vez mais caras, cada vez mais pessoas que não têm nenhuma vocação política estão se elegendo para o parlamento. Uma grande maioria das pessoas envolvidas atrás de benefícios, são pessoas que respondem a processos, que querem fórum privilegiado, infelizmente é o que estamos vendo hoje na política brasileira. Acho que um dos grandes responsáveis por isso é o próprio eleitor, que não qualifica o voto, que troca o voto, que vende o voto e depois é o maior crítico da classe política. Se o voto fosse qualificado, teríamos políticos de melhor qualidade.

O que mais atrapalha os políticos de classe média?

Todos os parlamentares de classe média terão uma das eleições mais difíceis que já enfrentamos aqui nesta Casa. A concorrência de vários filhos de prefeitos, que fazem campanhas milionárias pelo Interior. Também existem grandes empresários, pessoas ligadas a grandes grupos financeiros, que estão ingressando na vida pública sem nenhuma vocação, e fica difícil. Temos que andar muito, mas sabemos que o dinheiro fala muito mais alto do que ações, trabalho, dignidade, ética, isso na verdade conta muito pouco. Precisamos de um trabalho que envolva a Ordem dos Advogados do Brasil, a Igreja Católica, a Igreja Evangélica, a própria classe política para chamar atenção da população para o que vem ocorrendo. Não adianta vender o voto por uma dentadura, por um saco de cimento, isso acaba em 20 dias. Quem faz uso dessas práticas fica conhecido pelo Interior como deputado Copa do Mundo e deputado Cururu, que só aparecem de quatro em quatro anos e quando acontece uma trovoada. Compram o voto do eleitor e desaparecem, isso já acontecia, mas a frequência agora é maior.

É fácil ser deputado estadual?

A Constituição de 1989 castrou os poderes legislativos estaduais. Não podemos legislar sobre matéria tributária, financeira, nem administrativa. Na verdade, não podemos legislar sobre nada. Só podemos fiscalizar, denunciar e falar na Tribuna da Casa, além de outros atos de menos importância. Acho o que isso tem que ser alterado, a própria Unale está atuando, mas o Congresso Nacional não enxerga com bons olhos. Só passa pelo Congresso o que é bem aceito pelo Executivo, dificilmente teremos uma reversão de matérias tiradas da competência do parlamentar estadual.

Qual seria a saída para melhorar a atuação do Legislativo estadual?

Acho uma vergonha que o Poder Legislativo, que nos últimos anos se tornou um apêndice do Poder Executivo, na esfera federal, estadual e municipal, não fazem a Reforma Política. Acho que a grande saída seria uma Reforma Política radical para que a gente pudesse conter o que vem ocorrendo hoje na prática política do Brasil. Cada vez está piorando, cada vez temos mais escândalos políticos no Brasil, com uma frequência muito maior. Temos conhecimentos de episódios que nos envergonham.

A oposição nacional acusa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fazer campanha antecipada, o senhor concorda?

Vários governadores e prefeitos foram cassados, mas Lula continua desmoralizando todas as instituições porque é imune a qualquer coisa. Não tenho dúvida que o PT tem junto com seus aliados criado factóides. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva já declarou que a ministra Dilma Rousseff é uma grande palanqueira. Palanque é de campanha. Ela aparece todos os dias em telejornais, jornais e rádios ao lado do presidente, que é um dos mais bem avaliados da história do Brasil. É importante que a população saiba que tem a candidatura do PSB, com o deputado federal Ciro Gomes, colocada pelo governador Eduardo Campos (PSB), presidente do seu partido, que é uma candidatura para tirar voto do governador José Serra (PSDB).

O que o senhor entende como distorção do Governo Lula?

Se alardeou que foi paga a dívida do FMI. Os juros do FMI são bem menores do que àqueles da dívida externa, só que essa semana todos os jornais publicaram que a dívida externa está quase em R$ 1 trilhão em processo de crescimento acelerado. Não estamos vivendo em céu de brigadeiro porque devemos muito e pode chegar o momento que isso vai estourar.

A atitude do senador Jarbas Vasconcelos em não concordar com prévias antecipadas do PMDB está correta?

O PMDB é um grande saco de gato em nível nacional. Na verdade, o PT quer passar a perna no PMDB tentando tirar o deputado federal Michel Temmer (PMDB-DP) da vice de Dilma para colocar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que é governista agora, mas já foi do PSDB. O PMDB quer correr para antecipar a eleição de Temmer, que é o presidente nacional da sigla, para ter o controle do partido na mão e forçar a candidatura dele a presidente.

Quais as fragilidades do Governo Eduardo Campos?

Temos que analisar o Governo Eduardo Campos comparando com Governo Jarbas Vas-concelos. Se Eduardo Campos faz uma boa gestão é porque recebeu um bom governo de Jarbas Vasconcelos, que preparou o Estado por oito anos, acertou as contas, fez toda a negociação de dívidas e recebeu um Estado equilibrado. Não negamos que ele faz um bom Governo, tem o apoio do Governo Federal, tem uma concentração de recurso muito grande nas mãos do Governo Federal. Aliás, os estados são reféns da máquina do Governo Federal. Diria que Eduardo Campos precisa melhorar na área da saúde, das estradas, melhorou a segurança da capital, mas precisa melhora no Interior. Se a gente tiver essa disputa vamos ter duas opções boas para a população possa escolher.

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